09 março 2013

Um texto, um nada esquecido.

Existe uma certa clareza na solidão, só não a encontrei ainda.
Estar só, querer estar só, de repente o mundo não passa dos metros quadrados de sempre. tão familiar, dos ônibus, do apartamento, do quadrado do trabalho e dos shoppings onde nunca encontro o que quero comprar, porque não está a venda.

Sempre estive um passo atrás, na moda, nas tendências, na própria vida, houve um tempo, muito tempo que havia algo importante a se fazer, era tão importante... mas me esqueci, o que me anima são os livros, não os de auto ajuda, esquecidos, a vontade de querer tê-los, de passar a mão na capa lustrosa e saber que é algo que posso ter e que me farão companhia. Tal qual os cigarros. Acender e aspirá-los é como encher um vazio, mas enchido com fumaça que logo se esvai. Como todo o resto. Meu fôlego diminui a cada dia que tento aspirar a vida. É exatamente como esticar a mão para pegar algo que se vê, depois se percebe que só se vê na imaginação.

Não faço competições mais, gosto de estar no lugar mais medíocre porque assim ninguém espera nada de mim e posso ser qualquer coisa, até um caso perdido.

Meus pensamentos nunca são claros, por isso meu comportamento é sempre tão esquisito. Queria parar o tempo. O tempo que fala, ei você está chegando aos trinta. Mas eu sei que é mentira, porque ainda tenho 17.
Sou superficial porque gosto de viver na superficialidade das coisas, eu poderia ser genial, fazer coisas geniais, mas das oportunidades que me tiraram, das que sobraram eu mesmo abri mão. Não quero escrever, não quero trabalhar, não estou deprimida, só esqueci o significado das coisas, realmente tinha coisas importantes, mas não lembro delas. Nunca apostei muito porque sempre apostei tudo, mas é aquela coisa "dá uma vontade enorme de largar tudo, mas não tenho nada."

De relatos soltos que dariam um ótimo texto, que nunca quero escrever. De coisas que nunca quero fazer. O cesto de roupas para passar, as coisas tão importantes que se resume a empurrar mais um dia.

Não gosto do sol. Não gosto de pessoas. Só gosto do que posso comprar e possuir, de um quadrinho novo para a sala a um pedaço de alface, gosto delas só porque podem ser minhas, assim como minha solidão, meu cabelo, da minha caixa de cigarros e meu pacote de balas. Porque elas são minhas e porque eu gosto das minhas coisas, mas só as que posso dizer que são minhas realmente, o resto é temporário, emprestado ou doado. Eu também gosto das minhas cortinas coloridas que fiz e do meu colchão de segunda mão. Mas não gosto das minhas janelas, porque elas são portais que mostram que existem coisas lá fora. Coisas que não queria que existissem, porque não posso tê-las.

É como fazer enormes viagens e nunca ter ninguém esperando nos aeroportos da vida, e o costume não diminui o impacto dessa descoberta. Moro aqui a um ano exato esse mês, minha família nunca me visitou, o mesmo acontecia no Rio, todos tem suas razões, são reais e não as questiono. Sempre eu mesmo que tenho que preparar a mala e sair andando, meu dinheiro, minhas escolhas, foi eu que escolhi sair de casa não é mesmo? Eu fiz as minhas escolhas. Ninguém nunca disse que era certo ou errado. Todos continuam no mesmo lugar de dez anos atrás, de mais anos até, dos anos que nem lembro. E são meu porto seguro, porque estão lá desde sempre, é comigo que ninguém pode contar, afinal eu que nunca estou onde estou.

Aos olhos de todos sou independente e bem resolvida. Sou tão bem resolvida que não é me dado a oportunidade de não sê-lo. Todos os dias algo tem que ser feito, as contas são empurradas debaixo da porta, ninguém sabe como farei, mas sabem que farei. É cada um por si.

E tenho um bocado de remédios, para dormir e para acordar, para fingir que a vida é feliz, para não matar meu chefe, para as dores de cabeça, vitaminas da moda, comprimidos de sabe-se Deus o que, capsulas de esqueça sua realidade.
Tem dia que tomo dois, três delas a ponto de alucinar na minha cama que já estou dormindo, mas ainda estou acordada e só é oito da noite. Nenhuma delas foram receitadas para mim, são o que são. Mais alguma coisa que deve ter dado certo pra alguém, mas apesar de eu fazer igual não deram certo pra mim.

O resto eu olho através, não tem importância, não fazem parte do todo, são coisas jogadas aqui e ali, é um pote no meio da sala, é um cinzeiro cheio, uma caneca esquecida, uma vida esquecida.

Não posso dizer que estou esgotada, porque não me pergunte como, sempre arrumo um pouco de energia para não desistir, de fazer uma graça qualquer, e é sempre nas horas que estou a um passo de realmente fazê-lo. Por isso eu nunca recomeço, pego no exato ponto que parei e continuo, deleto as dores porque sou feita de pedra, por isso meu nome é Cristal, que também significa gelo em algum idioma, é a mim que deveriam pedir perdão, que deveriam lembrar-se, mas deve ser difícil, e não cobro mais, cabe a mim no final perdoá-las, e eu faço as vezes. Na maioria só me permito esquecer. São como crianças que rabiscam as paredes, o problema é que são sempre as paredes da minha casa.

Limpo a bagunça e sozinha, na minha humilde solidão pego um vidro de cola e vou refazendo pacientemente os vasos, os pratos, lavo as paredes mas tem dias não quero. Dá tanto trabalho refazer só pra ver tudo destruído de novo, ultimamente eu mesmo tenho rabiscado as paredes que já que teremos trabalho, quero contribuir com a própria destruição já que refazer só cabe a mim mesmo.

Sei que farei tudo novamente, porque é isso que faço, se existe um abismo, é pra lá que me jogo. Sempre sem nenhuma garantia porque não há garantias, mas eu inquestionavelmente assino as promissórias, garantindo até a minha alma que farei o que disse que faria. Porque é o que sempre faço. Eu assino, manda pra mim, eu resolvo, eu faço, no final é sempre assim, assim como no começo.
Pode jogar nas minhas costas, já carrego essa mochila mesmo, ache um bolsinho e coloque algo seu também.

Conto com uma coisa que esqueço que tenho, porque me é prático, as pessoas idiotas ganham simpatia, quanto mais fracas e mais vulneráveis, mais elas tem, mas elas tem ajuda e eu queria que alguém pegasse a minha vida e falasse eu me responsabilizo por você. Eu queria uma mãe, um pai, uma família, um pote de ouro no final do arco íris.

Dói ser responsável por tudo, assusta e não tem nenhum tipo de congratulações a não ser sobreviver. Quando um idiota faz algo legal todo mundo dá parabéns afinal é um avanço, quando alguém sensato faz algo é só obrigação, afinal você tem obrigações. Inteligência e capacidade é um fardo e não um prêmio.

É minha obrigação ser forte, é minha obrigação entender, compreender, afinal eu inteligente, eu fiz escolhas, eu fiz até terapia, ninguém bate na minha porta para dizer: Que orgulho tenho de você, para quem não ia dar em nada você até que fez alguma coisa. Você até sobreviveu!

E querem tudo o que não tenho, querem meu amor, minha aprovação, querem meu apoio, minha opinião, não importa onde eu arrumo isso, sei que você tem e vou te roubar porque se você arrumou esse tanto é óbvio que arrumará mais. Roubam meu amor próprio, minha confiança e nem sei o porque, afinal é tão pouco perto do que poderia dar de graça. Só posso imaginar que tem muito menos que eu, então deixo que o saque aconteça. Porque é realmente tão pouco. Tão medíocre.

Mas é do que as pessoas gostam. Do medíocre, se for bom demais acreditam não merecer e devem ter porque acreditar nisso.






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