23 agosto 2014

A batalha do sono

São 4 e meia da manhã e acordei, acordei pela milésima vez consecutiva, quando me olho vejo o abatimento da luta, olheiras, cabelo e pele pegajosos de um suor de quem literalmente se escondeu debaixo das cobertas.
Já sabia que estava com raiva, raiva a dias, raiva que vai acumulando, é fato que sei quando vou ficar doente, fisicamente ou mentalmente, sei pelos loopings que a mente vai dando, sem cessar, sei pelo sentimento de impotência que me acomete, pelas repetições de jargões de que não adianta e coisas do gênero.

Fui dormir cedo, o corpo dolorido do stress de me controlar quando meu cérebro repete o tanto que sou inútil, viajo para um lugar tão ruim, um lugar que todo o medo reaparece, onde minha cabeça reorganiza e edita os fatos só para me fazer sofrer.  A realidade não tem a mínima importância, no lugar secreto onde meu pavor repousa, toda a história é reinventada, as coisas nunca são como são... ou como foram. Me ouço repetir que se fosse a observadora distante da minha própria vida, não sou exatamente eu, penso  que “se fosse” com outra pessoa as coisas seriam diferentes... me sinto tão humilhada e desrespeitada que meu corpo tem ímpetos secretos de bater em alguém, empurrar da escada, penso em algumas formas realmente dolorosas de punir alguém (que não seja eu por uns momentos, oras!) penso também em dar uma boa lição de moral, quando chego na fase da lição de moral posso ficar horas inventando um diálogo imaginário onde diria tudo o que me engasga ou engasgou, me expresso da forma que quero, ou seja, sem respeitar minimamente o outro, só importando o alívio temporário que isso me daria, já que depois seria acometida por uma vergonha intensa de ter deixado escapar aquilo que realmente penso sobre algumas situações.


Consigo sentir de uma única vez TODAS as injustiças que ACHO que sofri e isso se parece com um soco muito forte, dado no centro do meu rosto. Revejo cenas, edito, reinvento, pego o que foi ruim e transformo em péssimo. Nesses dias, ou no único dia que ocorre, pode ter certeza que estarei sozinha, escondida em um canto do meu cérebro, provavelmente fumando, dificilmente escrevendo, pois escrever é um ato que precisa reorganizar a cabeça, por isso quando acordei, aliás fui despertada de um pesadelo que não sei se estava dormindo ou acordada e resolvi levantar e escrever porque sabia que só esse ato já me traria conforto, tanto que já estou sentindo sono novamente, vou tomar um banho para retirar essa gosma verde que se apossou do meu corpo e voltar a dormir, o sono pacífico e sem batalhas que mereço. 




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