17 janeiro 2011

Qualquer coisa desse gênero

Impressionante como somos capazes de negligenciar tudo o que realmente nos é importante, saúde, o amor de nossas vidas, nossa família, programas...

Trabalhamos feito loucos para... melhorar de vida, e nunca melhoramos realmente, não me considero uma pessoa melhor porque ganho mais hoje, acho só que posso comprar mais coisas e parecer mais rica, eu faço parte do batalhão que está perdendo uma das coisas acima, e eu mal consigo mentir sobre isso, é a ilusória sensação de que a vida pode entrar nos eixos.

Sou escrava do dia 5, do meu salário, da minha vida proletariada, sou escrava do meu stress, do meu trabalho, da adrenalina mentirosa que atropela os dias, do sentir-se útil, de ter a falsa impressão que faz parte de algo.

Na verdade eu sou você, ou você é como eu, você está todos os dias atrás do computador, horas e horas, fazendo planilhas, atendendo ligações, sentindo-se importante, capaz, multifacetado.

Mas você não é exatamente esse sucesso todo, você é só mais uma peça da engrenagem, não vou abandonar o mundo capitalista e ir viver de vender bijuteria na praia, mas me dei conta dia desses que tem mais de dois anos que não vou ao cinema, meu namorado idem, meu mês é casa trabalho, viagem e quando muito uma praia, sempre a mesma, inclusive.

Sempre todos os dias iguais, acordar, uniforme, melhor sorriso falso que existe, comprem comigo, comprem comigo.

Notemos que a insatisfação está tão entranhada que nem conseguimos mais distinguir porque exatamente estamos insatisfeitos. É só um algo que falta, um algo que falta todos os dias, onde tentamos tampar o buraco com iphones e ipads e roupas da moda, livros in, palavras desconexas sobre business, somos todos executivos modernos, eu? Executiva de Vendas. Você? Executivo de qualquer coisa, pode ser até executivo da xerox, nunca pululou aos nossos olhos tantos gerentes e supervisores, já fui até chamada de “gerente da minha carteira de clientes” como se títulos deixassem todos importantes e felizes.


A tia do café? Gerente de suprimentos da cafeína diária dos colaboradores.

No final estamos aí, todos muito cansados, absolutamente perdidos, todos muito merdas com nomes de bosta.




Nem ao menos sabemos, o que nos faz felizes! Somos mesmo um bando de retardados em seus ternos juvenis.

Cada vez mais penso, e se um dia eu me tornar algo totalmente daquilo que considero como ideal eu serei infeliz ou serei realmente quando me tornar tudo aquilo que imagino?

Hoje, sucesso para mim seria ter tempo e cabeça para responder todos os e-mails do meu namorado, conseguir conversar com minha família mais de dois minutos seguidos, escrever mais, pensar menos.

Tenho certeza que no meu modelo de sucesso a cinco anos atrás não era exatamente isso, por isso cada dia questiono mais se algum modelo para mim servirá, ou se tenho mesmo que criar o meu.

7 comentários:

Rita Aurelio disse...

Calma, Cristal...
Desse jeito, o que vai spensar quando chegares nos 40? Das bolinhas que fazes malabarismo todos os dias, a única que cai no chão é não quebra é o teu trabalho. Hoje tu trabalha ai, amanhã tu não sabe. O trabalho é o caminho que tu vai usar pra chegar onde tu quer. Mas tenha calma, tu ainda nem chegou nos trinta anos.

Unknown disse...

Esses questionamentos fazem parte da vida de qq um.

"A tia do café? Gerente de suprimentos da cafeína diária dos colaboradores." kkkkk adorei!

Eu sou analista do meu cú.

bju

Quem escreve disse...

Adoro suas postagens, mas nessa você se superou. Sinto exatamente a mesma coisa. Posso incluir um trecho no meu blog? Abraços!

Lara Mello disse...

Vc tá inspiradissíma esses dias!! Acho que você tem razão.. E acho que tem que criar um modelo para você! Bju

Anônimo disse...

É, a grande correria do mundo capitalista acaba consumindo a nossa vida de uma forma que a gente nem percebe...

.Intense. disse...

Lembrei de um tweet q li hoje: Você já imaginou como a sua vida parece aos olhos de outra pessoa?


Na hora que li isso, não pensei nessa preocupação maluca que (inconscientemente) alimentamos, de aparentar grana, status, sucesso, bla bla bla...mas se nossa vida aparenta felicidade. E, se aparenta, se realmente somos felizes.


Seu post é pra fazer qualquer um parar e pensar, mesmo. Nem que seja pra continuar questionando esse sistema que adotamos pra viver - continuando, sem estar feliz, sem saber bem por quê.

Ana P. disse...

OUCH!

Tocou na ferida, guria. Seja mais delicada com meu coração da próxima vez!

Estou, sempre fui e sempre serei uma insatisfeita com a vida. Uns dizem que isso é bom pq vc busca melhorar.

Eu digo que pra mim isso é péssimo, porque gosto muito da minha bolha, da minha zona de conforto. Não vou me arriscar atrás de algo melhor. E se algo melhor não existir?