16 agosto 2011

Cadê eu?

Tenho me sentido angustiada, presa, me movendo em câmera lenta. A gente faz nossas escolhas e elas não vem completas, nos cabe ajustar daqui e dali.

Saí de casa cedo, aproveitei um monte de coisas, depois resolvi minha vida hoje, trabalho, faculdade, namoro, viagens, adultice, roupas sóbrias. Saco. Ser adulto é chato, ter perspectivas curtas é chato, burocracia, exames de rotina, plano de carreira, trabalhe e verá os resultados, beber menos café, parar de fumar, carteira de motorista, seja saudável, tudo isso é chato. Sou uma senhora de meia idade de 26 anos.


Sei das minhas necessidades, de flanar sozinha por aí, ir ao shoping ficar horas em uma livraria, sentar em um banco para admirar o nada, ir a praia observar as pessoas, deitar e ler um livro até adormecer, vender por prazer, tem dias que não me sinto nem mulher suficiente, pois tudo o que faço tenho que falar com o namorado / mãe, dizer a hora que chego ou que saio, mesmo que seja para ir no supermercado, tal qual criança, e ser ralhada como uma imbecil porque fumo ou gasto meu dinheiro inteiro com coisas idiotas, ou porque não liguei na hora certa. Aí eu me lembro, ei sou adulta, até onde sei, dona do meu nariz, porque tudo tenho que explicar? Porque preciso desse tipo de aprovação do "olha como faço tudo certo!" Porque tenho que explicar que gosto de ficar sentada no banco olhando para o nada, porque as pessoas simplesmente não gastam tempo tentando me conhecer ao invés de me cobrar uma postura que sequer prometi?

Hoje eu só bebo socialmente, tenho um relacionamento estável, um emprego "seguro", planos para médio e longo prazo, mas existe um buraco na minha vida, o exato espaço do meio entre o hoje e o plano a médio prazo, quero saber onde enfio a minha vida nesse meio tempo.


Não sou o tipo previsível e nem cheguei até aqui para ter uma vida programada, um trabalho em escritório seguro com salário no final do mês, onde vou seguir uma carreira, tirar férias uma vez por ano e depois de juntar algum dinheiro quem sabe fazer uma viagem ao exterior, não quero chegar aos 30 e depois aos 40 sendo somente uma pessoa simpática, legal e equilibrada.


Quero sair para pedalar a noite com meu namorado, quero vento no rosto, quero varanda, aprender coisas novas sem serventia, ter algum hobby idiota, ajudar a pendurar os quadros na parede, ter voz ativa em alguma coisa, quero ter minha casa, morar sozinha, deitar pelada na minha cama, ter lençóis velhos, ficar preguiçando esparramada no chão frio, lendo revista da turma da Mônica, jogar as roupas pelos cantos, dançar pela sala sem ritmo, ter uma pilha de livros para ler e comer o que me der na telha. Eu quero a minha vida!!!!!! Minha! Minha!!!!!!!! Quero parar de rodear a vida de quem quer que seja, independente do quanto eu o ame.


Quero sair dessa zona confortável do fazer sempre o mesmo, não quero ser a garota sapatilha que não usa salto porque dói os pés, ou a garota cabelos comportados e muito menos a menina meu livro predileto é o Pequeno Príncipe.


E reivindico também o meu direito a ser idiota, de fazer merda e quebrar cara, e andar molhando o chão da casa, e secar a mão na roupa, e andar de calcinha furada, e sutiã com um aro só, comer um big mac uma vez por mês, errar uma receita de vez em quando, ou salgar a comida demais, cortar o cabelo e me arrepender e gritar quando alguém é grosso comigo, quero me rir de mim mesma, e rir dos outros, e voltar a falar "você está se levando demais a sério".


Eu mesmo vou viver minha vida, e o resto, vai acontecer quando tiver que acontecer.

7 comentários:

Maria Thereza disse...

venho vivendo a MINHA vida, minha e de mais ninguém, desde sempre, e devo confessar que é bastante solitário. quando você não faz o que os outros esperam que faça, os outros tendem a se afastar. agora estou tentando aprender a balancear as coisas, e acho que isso deva ser o ideal.
o que estou querendo dizer é, existem lados bons em não ser você mesma 100% do tempo, então não é o fim do mundo e não é uma prisão dever satisfações para as pessoas que mais importam pra você. só uma opinião :)

Anônimo disse...

Minha realidade hj,não pq preciso agradar as pessoas, mas pq vivo num mundo de planos,plano de carreira,plano de viagens,plano de dietas...sem tempo,sem muitas escolhas sensatas,sem espaço para mim e para minhas coisas,sem descanso!Correndo atrás das coisas,correndo da falta de tempo, correndo p dar tempo...correndo demais,preciso parar!

iILÓGICO disse...

tem horas que me pergunto o quanto vale a pena tudo que vivo. e não sei a resposta. sei que tenho vivido em funçao de tudo e de todos. e tudo pode dar em nada. a vida é escolha diária. o que falta é determinação para fazê-la. tenho tanta coisa adiada...

Kaede Cardoso disse...

Adorei o seu blog. *.* encantador

Flávia Sardinha disse...

Que delícia, Cristal. Confesso que tenho te sentido muito "certinha". Delícia por que tem de ser algo natural. Esse "meio termo" da amiga lá de cima é bem difícil de alcançar. Porém, se aceitar e viver a partir das suas escolhas e daquilo que acredita é simplesmente maravilhoso, apesar de poder ser solitário. O problema são as milhares de expectativas que nos colocam e, eventualmente, colocamos nos outros. Liberdade.

Eu?! disse...

eu acho que não tem como fugir da expectativa alheia, já fui rebelde, e nesta época não esperavam muito de mim, fui certinha e se espantavam quando eu tomava UM porre, não tem jeito, infelizmente...agora com 36 anos, vivo do meu jeito e rio quando as pessoas se surpreendem com alguma atitude minha ;)

Lara Mello disse...

Me vi muito no texto, acho que o mais difícil é sair da zona de conforto, dá a cara para bater, sofre e viver.. Tudo é muito difícil :)