19 junho 2013

Viver sozinha

Antigamente eu tinha muito nervoso de estar sozinha, afinal tinha vivido bastante tempo envolta em várias vozes, pessoas com quem eu falava sobre a minha vida, com quem eu compartilhava alguma coisa, mesmo que metaforicamente.
Quando fiquei sozinha e descobri isso me deu um desespero tremendo e vivi nesse desespero durante bastante tempo, aquele silêncio, o vazio, as coisas que não tinham muito significado.

Usava meu apartamento para me esconder e não para curti-lo propriamente dito, existia uma casca velha do fingir que não era necessário vestir estando sozinha, mas não sabia.

Houve tempo, muito tempo, remoto tempo que suspeitava que se mostrasse quem era eu (e não faço ideia ainda de quem eu seja) as pessoas me julgariam errado. Que ser feliz sozinha era quase pecado, afinal é isso que as pessoas abominam, posso dizer até que adoeci (e posso dizer no passado porque já me libertei da necessidade de viver em angústia)  e a pouco tempo, naturalmente, veio a vontade de ser eu, por algumas horas do dia não há fingir, na minha casa, posso ser quem quiser, e audácia! Ser eu.

Existe inúmeros papéis que desempenhamos durante o dia, ou durante a vida e nunca temos tempo de despir esses papéis e voejar livremente, mas descobri que podia, existe uma liberdade falsa em atos propositais como andar de calça furada pela casa, mas não é dessa liberdade que falo, ela é ilusória, estou tentando expressar a minha liberdade, de não ter ninguém para me castigar por estar agindo infantilmente ou idosamente, não tenho vergonha de minhas manias, mas não existe porque se envergonhar quando não há ninguém vendo.

Posso ser Beyonce dançando em frente a tv, posso chorar sem precisar me explicar, posso ser feliz sem nenhum motivo aparente, posso brincar com meu cigarro, deitar na cama, levantar da cama, rir muito alto, falar sem parar, ficar em silêncio (que é como normalmente fico pois já existe muito barulho na minha mente).

Achei que a cura viesse externamente (mas não faço ideia porque acreditei nisso, mas julgo saber) e esperava alegremente que alguém me ofereceria gratuitamente uma dose de esperança e atenção, até perceber que já tinha a atenção que merecia, a minha.

Joguei beijos para o espelho sozinha, disse que eu era legal e que meu mundo pode não estar perfeito, mas mesmo assim quero continuar morando nele e que não tem problema eu me sentir frágil de vez em quando.

Hoje não sinto grandes problemas em estar sozinha, tudo é tão passageiro... até a solidão é passageira e enquanto tiver minha mente para bater papo comigo não me sinto só de verdade, me sinto só deslocada, mas me sentir parte integrante de algo é tão raro que me permito ser uma pessoa deslocada, acho que no final das contas todas as pessoas o são.







Um comentário:

Andréa disse...

Bem vinda ao clube!