30 setembro 2023

Depressão.

O tempo, inexorável, vai sempre passar.

Remendei roupa, escrevi até cansar, li, comi, fiquei mexendo em umas coisas na estante, falei sozinha e depois resolvi curtir o silêncio.

Me preocupa ter coisas para fazer porque não quero ter tempo de ouvir as coisas que minha mente me diz e sei que são mentiras, que não sou boa, que só faço bobagens, que minha companhia é ruim, que sou assim ou assado, coisas que sei em um nível intelectual que não são verdades, mas a partir do momento que penso nelas acredito serem reais, aí eu começo a achar as coisas que validam aquilo que minha mente fala e no final tenho certeza que minha cabeça está certa, que sou mesmo uma imprestável. Se aquieto minha mente são as primeiras coisas que surgem, coisas como "você não tem serventia pra nada". Por isso estou sempre preocupada em estar fazendo algo, porque isso vai distraindo minha mente e puft, mais um dia passou...

Meu emprego é péssimo, meus relacionamentos são inexistentes da minha parte porque não consigo falar nada que me incomoda ou que me alegra, não consigo nem demonstrar, e muitas vezes não consigo sequer sentir qualquer coisa, qualquer coisa, até raiva, simplesmente não consigo. É como se as pessoas existissem simplesmente para me relembrar de que não adianta fazer nada. Cada dia dou um pequeno passo para mais longe das pessoas porque é tudo um borrão, quando estou começando a ficar feliz por uma bobeira, minha cabeça logo diz que vai acabar, então eu penso "pra que continuar com isso?" e volto ao estado anterior, com uma ou outra coisa que quebra o ciclo e me dá uma acordada, para logo depois me fazer voltar a apatia mental anterior.

Nem olho as coisas, olho através delas, como se meus olhos se negassem a ver qualquer coisa, minha mente a registrar, você pode me dar um soco ou uma flor e dará no mesmo. No mínimo vou fazer uma análise totalmente errada dos dois atos e esquecê-los em dois minutos.

É claro que sei que estou doente, claro que sei que esse não é meu estado natural, é claro que luto contra isso com unhas e dentes, cada dia faço um esforço sobre humano para não surtar, sei que é um estado mental, uma teia, um coisa grudenta, nojenta.

Tomo meu remédio, medito, claro que tento ver o lado positivo das coisas, fazer algumas coisas que me satisfazem, mas a verdade é sempre a mesma, não faço a mínima ideia do que estou fazendo no mundo, aqui ou ali, se trabalho ou não ou como escolhi viver minha vida. Não consigo nem fazer diferença pra mim, no todo, quanto mais para outras pessoas, nem sei de onde tirei que para ser feliz teria que fazer diferença na vida de outra pessoa. Tenho tantas ilusões sobre como as coisas são que prefiro me retirar para aquele lugar no cérebro, onde nada há, o único lugar que vivo.

Se você estender a mão pra me ajudar é capaz de eu nem saber o que é isso, tamanha falta interesse em saber das coisas. Por isso as vezes rio da desgraça e choro por coisas comuns, por não saber diferenciá-las mais.

As vezes parece que não tenho medo de nada, mas não é medo ou falta de, é por não fazer diferença de qualquer tipo, acho a dádiva da vida tão banal que nem falo nada e nem me incomodo com nada. E me sinto culpada porque sei de pessoas que dariam um braço para ter uma vida parecida com a minha.

Aí acontece algo, como pensar que preciso ou tenho que fazer algo, ter que sobreviver, pagar o aluguel, ajudar minha mãe, comprar um sapato e continuar.

Não tenho a mínima ideia para onde vou, só sei que aos trancos e barrancos me arrasto até lá, acho que espero chegar a um lugar onde nada haverá, será o vazio absoluto.

O que mais me entristece é saber que tenho tudo para ser feliz, satisfeita, tenho muito mais que a maioria das pessoas e mesmo sabendo... minha cegueira é tal que não consigo ver.









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