05 dezembro 2008

Saudades e escolhas...

Não consigo expressar direito o sentimento que me acometeu a pouco quando eu soube que meu quarto na casa da minha avó foi alugado. Eu já morei durante um ano naquela suíte! Era um pedaço “agregado” no quintal que dava para a varanda, a vista é linda! É daqueles quartos bem pequetito, só cabia minha cama de casal, meu guarda roupas e um frigobar, praticamente um quarto de motel, e por ter “telhado de chalé” o pé direito era baixinho dava um sentimento de acolhimento sensacional, não tem box e o banheiro é tão pequeno que eu praticamente tomava banho em cima da privada, alguma das melhores lembranças que tenho na vida aconteceu naquele quarto onde eu recebia amigas, ria até perder o fôlego com a minha madrinha e expulsava os meus priminhos. A única coisa que não podia eram namorados irem para lá, meu avô é ciumento, mas sinceramente isso nunca foi um problema.
Quando eu fui pra lá, já era mulher independente, pagava aluguel pra minha avó e incluído tinha a janta, porque passava o restante do dia trabalhando, fui pra lá em uma época que precisava muito de algum referencial de carinho, minha vida estava muito louca e corrida, vivia para trabalhar e tinha a responsabilidade de me sustentar, pagar todas as minhas contas, minha profissão era uma bosta e eu estava deprimindo naquela cidade tão pequena, sair de casa muito nova tem um preço alto que só quem já fez isso sabe.

Minha avó me convidou explicando que jamais se meteriam na minha vida e que apenas queria me ver de perto para saber que eu estava bem. Aceitei.
Lá eu soube o que era uma família e que algumas pessoas realmente se importam, mesmo eu não sendo modelo de nada.
Mas como tenho um que de cigano e não suporto infelicidade, joguei esse pequeno paraíso para o alto em busca de algo maior, daquelas coisas que você só sabe no íntimo que se não fizer, jamais se desculpará. Vim para o Rio, arrumei emprego, refiz minha vida, fiz uma nova família, novos amigos...

Minha avó manteve o quarto durante três anos com as minhas coisas na esperança que eu voltasse, mas eu vim sem data de voltar e todo mês quando eu vou para a casa deles eu ficava com no meu quarto que tinha o meu cheirinho e a coberta estava sempre esticada. Até hoje... quando minha avó muito sem jeito me avisou que eu dormiria no quarto de dentro (lá tem mais 4 quartos), porque ela tinha alugado o externo para um senhor amigo. A grana é legal e não posso culpá-los. Afinal eu já não pagava mais nada e nem morava mais lá. É um sentimento de posse bobo do qual eu nem tenho o direito de sentir. Mas no meu coração aquele lugar significava segurança, um pensando de “se tudo der errado um dia eu volto pra lá” porque “lá” era o lugar que eu sabia que sempre teria uma cama pra mim. Meu racional sabe que se um dia eu precisar, meus avós não piscariam e falariam com o amigo que “minha neta quer o quarto de volta”.

Hoje eu voltei seis anos na minha vida, quando saí de casa com uma trouxa de roupas e um ideal de vida qualquer. Eu não admitia para ninguém, mas sentia tanto medo. Medo de dar tudo errado, de passar fome, de ter que viver sem nenhum conforto, de nunca conseguir ser nada. Medo dos avisos que nada seria fácil, medo de morrer sozinha...
Não foi fácil mesmo, mas não me arrependo. Daqui a pouco jogo tudo pro alto de novo e vou tentar uma vida diferente em algum outro lugar qualquer se assim me parecer interessante ou necessário. O ser humano é como a mariposa, mesmo sabendo que a lâmpada a queimará, não consegue se manter longe do fascínio da luz.
Amanhã vou rever a minha família, com certeza estarei feliz, eles, mesmo tristes quando eu parti, ninguém nunca segurou o meu braço para ficar. Sabiam que eu seria infeliz se me prendessem, não pedi para ir embora, eu simplesmente comuniquei. Minha mãe ficou chocada, afinal apesar de pobre não me faltava nada. Me perguntou como eu faria para viver, e eu muito segura disse apenas que daria um jeito. E foi o que eu fiz.
As escolhas não são fáceis, tem dias que a saudade bate e tristeza quer arrumar um cantinho para se instalar. As conseqüências nem sempre são aquelas que esperávamos. Mas eu sou feliz do meu jeito. Minha família fica feliz quando sabem que eu sou feliz, e é isso que importa.


21 comentários:

BETA disse...

Todo mundo tem um quarto no quintal da avó da memória... uma quimera, um lugar pra voltar. O que vale não é o lugar, é o acolhimento.Eu tenho meu quarto na casa antiga da minha mae... a janela dava pra uma mangueira cujo cheiro invadia meu sono. Sempre volto pra lá nos meus sonhos...

May Cannady disse...

Ah Cristal eu sou meio cigana assim tb... larguei meus pais aos 20.. mais foi "fugida" pq eles eram totalmente contra, sempre me sufocando.. Hoje eu entendo q eles tiveram motivos.. foram pais mais velhos queriam filhos pra dar um sentido novo na vida deles. Mas poxa como o ditado diz: Filho é para o mundo e não para gente.
Uma vez por ano vou pra minha cidade, minha mãe deu meu quarto para minha cunhada ficar com a filhinha dela, o motivo não é nem porque é maior ou mais confortável, é porque é praticamente colado no quarto da minha mãe... eu nem fiquei chateada, porque minha mãe é assim: extremamente dependente de carinho.
Que bom que sua família fica feliz, é um sentimento importante para nós conseguirmos seguir em frente =)
Bjo Cristal td de bom na sua vida =*

Erika disse...

Eitah, q eu de verdade fiquei toda emocionada...Texto bonito Cristal.Muito mesmo. Queria muito que algumas pessoas simplesmente entendessem , como tua familia, o que me faz feliz...

Beijos!

Michelle... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michelle... disse...

AGORA SIM...

a cristal também tem sentimentos, gente!!!
a cristal também tem sentimentos, gente!!!

tô brincando...
bacana esse tipo de reflexão. só assim a gente percebe que valeu a pena tudo o que já passou e tudo o que fez simplesmente para ser feliz!

bjao

Andarilho disse...

É a época natalina, que aflora os sentimentos da galera, huhuhuh.

Dois cigarros e um café. disse...

Beta: É sim, concordo, a gente sempre pode voltar lá, afinal está na nossa mente.

May: Sei como se sente. Nem sempre as mães estão preparadas para serem "abandonadas" tenho o costume de dizer que as mães pensam que os filhos são somente um prolongamento do prórpio corpo, eu que sou filha única sei como é, mas apesar de tudo depois elas entendem, tudo de bom pra vc tb ^^

Ericka: Eu tb fiquei quando escrevi ^^, eu tb queria que outras pessoas entendessem...

Michelle: Tenho sim, mas é só de vez em quando hehehehe. Devez em quando é necessário parar e pensar para continuar...

Andarilho: E eu achando que era porque minha avó alugou o quarto,mas é somente o Natal hahahaha.


Beijundas :)

Diferentes Prismas disse...

quase caiu uma lagrima, enquanto lia este texto, estou fora de casa desde os 17, os mesmos sentimentos eu senti, eu fiz sentir, mas agora vejo que nossas escolhas são totalmente necessárias, senão não seriamos nós, seriamos o que outras pessoas quisessem...!!!!


um BJAO em cada banda...!

Dois cigarros e um café. disse...

De vez é separado, eu sei, mas é erro de digitação.

Diferentes: Só que foi obrigado a amadurecer rápido que sabe o quanto a carência bate de vez em quando. A gente erra, conserta, se fode,a vida não é mais fácil ou difícil porque fizemos isso, mas tem dias que dá vontade de ter alguém pra se encostar... aí a cabeça grita: Sem trabalho = sem comida e você levanta e vai.
Também saí nessa idade. Sinceramente acho que foi a coisa mais louca e mais sensata que eu já fiz rs.

Beijaços em todas as bandas - principalmente nos Beatles.

Mosana disse...

É verdade tudo que disse.. só quem sabe sabe o preço que se paga para se amadurecer cedo.. sai com 19.. mas voltei por n motivos.. e sai definitivamente aos 20.. foi muuuuuuito complicado.. e muitas vezes ainda é.. moro em outra cidade.. outro estado.. tenho minha família.. mas como vc disse.. é o preço que pagamos para sermos nós mermas.. e viva os quartos nas casas das avós!
bom fds!
kisses

Raposa disse...

Não sei o que escrever, sério... passei um tempo pensando, olhando pro meu prato de janta requentado, pensando que meu quarto na casa de meus pais virou um depósito, as camas servindo de prateleiras... Deu uma tristeza... maior ainda que eu, diferente de você, não tenho coragem de simplesmente jogar tudo pro lado... até tentei uma ou duas vezes, arrumei tudo, tinha tudo planejado, mas fui pedabundeado pelo meu medo... Tenho inveja de você às vezes... já me mostrou em diversas situações que quando está certa do que precisa, vai lá e faz, pega ou chuta, não espera ninguém pra fazer nem ter autorização... É nessas que eu me sinto tão ignóbil e talvez por essa que eu goste de você (e talvez pelo sorriso carismático, os seios fartos e umas semi-promessas de atravessadas que me deixam de olhos brilhando) e insista em te pertubar vez ou outra. Me perdoa por este comportamento mariposa medrosa, é que tenho muito medo de queimar as asas e acabo nem usando elas direito...
Triste, né?

Ana P. disse...

Eu queria ter essa coragem... mas no momento atual de todas as conjunturas de todos os fatos, eu sairia no total e absoluto preju.

Enfim... a gente acha que se desprende das coisas, mas acaba acontecendo aquela coisinha ridícula que ativa todos os espaços da memória, e que pode até nos fazer pensar 'será que eu fiz certo?'

E por vezes demora a perceber que, de uma forma ou de outra, nós, boas pessoas humanas deste mundo, sempre fazemos certo.

Ou não. Mas sempre vale a pena!

Nat disse...

Quem não entende sobre saudade, né? Eu trouxe comigo uma foto da paisagem da janela da sala da minha mãe, de onde a gente vê a Serra do Curral, uma montanha enorme e linda que eu amo. Eu sempre sentava perto dessa janela quando queria pensar na vida. Meu ex-quarto de solteira virou closet, e eu, assim como vc, entendo que a vida de quem fica tem que andar e que a gente tem que ser forte pra olhar pra frente tbm e não se prender tanto a lembranças e saudosismos. A gente é um vencedor na vida quando aceita e vive desafios como esse, de estar longe das origens. Com certeza hoje vc é mais forte, assim como eu tbm sou. Adorei o post! Beijos!!!!!

Thita disse...

Putz... Lindo texto...
Eu estou prestes a sair de casa... mas estou adiando... é... me da um medo...
Não queria ter esse medo, queria pegar minhas tralhas e dizer tchau, vou sentir saudade, mas ta na hora de partir... Queria ter um pouco da sua coragem...
Tá certo que a minha situação é diferente da sua...
Eu sei que ao sair terei meu lugar garantido na casa de minha mãe, mas é um passo tão grande que só de pensar fico aterrorizada...
Agora não tem mais jeito... é só arrumar um trabalho para poder partir...

Beijos Cristal

Anônimo disse...

Sai aos 16 anos de casa, e até hoje só voltei pra casa da minha mãe pra passar "temporadas" entre um casamento e outro. rsrs

Mas minha mãe não faz muita questão que eu volte pra casa, e nem tenho quartinho meu lá, no máximo um sofá velho ou a área de serviço que fica do lado de fora... mas acho que nem isso...

Sorte tua que tens um cantinho pra voltar se tudo der errado...
no meu caso, se tudo der errado o jeito é virar hippie pra fazer artesanato e vender na beira da praia.

beijosss amada. temos que nos falar pelos msn's da vida.... tenho novidades.

=********

Laísa disse...

Opa...
Texto surpresa!
Mas um bom texto para uma segunda-feira.

Saudoso, como me sinto agora. Sei bem o que eh sentir falta de um aconchego, de um lugar traquilo onde vc se sinta bem, de conforto e segurança.

Mas eh assim que a gente aprende...

Beijo Cristal!

Amanda disse...

Creio que eu tenha passado por algo muito parecido semana passada.
Explico:
Eu morava com a minha mãe e meu padrasto que foi transferido. Eles venderam o apê pra um casal de amigos e eu fui morar sozinha (não fui com eles por causa da faculdade).
Agora, dois anos depois, minha mãe resolveu passar uns dias na cidade e, como a amiga dela pagou a passagem, ela ficou hospedada na casa desse casal de amigos. Eu fui convidada pra ficar junto e foi muito estranho ver o meu canto, as minhas lembranças, os meus sonhos todos ali ainda naquelas paredes.

Ao contrário de você, eu não tenho o consolo de poder voltar pra lá um dia.

Mysterious Ways disse...

É , amiga Cristal.

Você fez certo. Se a gente quer aprender a andar sozinho, o primeiro passo não pode ser dado por outra pessoa ...

Eu sou assim como você.
Na hora parece doideira, mas depois dá tudo certo !

Beijoss da Mysterious

Anônimo disse...

Ah, Cristal eu sei bem como é isso...Apesar de amar o meu canto, foi terrivel ver minha mãe se transformar o meu antigo quarto...
Ainda voltei uns tempos pra cuidar dela quando ela precisou... mas eu sei que essa distancia só nos aproxima.
Hanna

Dois cigarros e um café. disse...

Mosana: Nem sempre é um preço barato, mas ninguém disse que seria. Eu tenho medo de ter que voltar... sei lá. Acho esquisito rs.

Raposa: Porque jogar tudo para o alto? Eu faço isso porque muitas vezes é necessário e não dou as rédeas de minha vida para ninguém, mas isso não quer dizer que sou mais ou menos forte, talvez seja só um resultado de tudo. Ráaaaaa. É assim mesmo, o medo é um cu bem feio.

Ana: Se sairia no preju, pra que tentar? Nem sempre o que dá certo para mim, dá pra vc e minha saída de casa não foi motivado somente pelo meu desejo rebelde rs. Acredito que sempre vamos achar que não fizemos certo, ou havia um jeito melhor para ser feito...

Nat: Ai saudades... eu acho que a gente pode até ficar mais forte, mas fica sem parãmetro às vezes... sei lá rs.

Thita: CARALHO, eu sentia muito medo, cê num tem noção!!!! Coragem é agir apesar do medo ;)

Eni: Minha mãe tb não faz questão, quem faz é minha avó. Vamos fazer artesanato juntas honney, mas sem a machonha rs. Ou não...

Colombina: É isso aê garota.

Amanda: É estranho né? Eu sempre quando visito minha mãe acho que aquela época era só quando eu era criança, como se minha adolescência não existisse, que doido.

Mysterious: Parece doideira? Até praga me rogaram hehehehe, mas eu me sinto bem hoje, apesar de tudo.

Hanna: É verdade, hoje dou outro valor para minha família.

Beijundas :)

Anônimo disse...

nossa, nunca me identifiquei tanto com uma situacao vivida por uma pessoa que ate agora pouco eu nao conhecia...
no final desse ano completam-se 4 anos que sai de casa, ate hoje vivo em pe de guerra com a minha mae, assim como vc cristal sou filha unica...meu pai mora no exterior e quase nao tenho contato com ele...tenho que trabalhar pra me sustentar, e agora to na merda porque fiquei desempregada...

adoro ler o seu blog, vc ta de parabens pela maneira como expressa seus sentimentos e pensamentos...
somos mto parecidas na verdade..
tudo de bom pra vc e mta sorte na vida!
bjs, mais uma fa!